quinta-feira, 29 de março de 2007

Perdi-me no oceano das emoções
pensei vislumbrar a quietude
não me detive em divagações
como era leviana a tua atitude

Deixei-me nesse oceano embalar
sem tempestades, sómente magia
recolhi o pôr do sol p'ra mais amar
limitei-me a viver o dia a dia

As redes de meus sentimentos lancei
ao ar, ao vento, a ti mar...
meu mundo á vela do sonho levei
mas quando as recolhi... só ar!!...

Nesse oceano continuo-me a embalar
há muito não deito as mias redes
esburacadas, não as quero remendar
a ti m'entrego ó Deus que tudo vedes

O pôr do sol á tanto desapareceu
e este oceano sem mais emoções
suas águas sem sonhos escureceu
é tempo do esquecimento, de perdões...

É tempo de doar, de recolhimento
já não o devo ter muito, que pena
tanto tempo de dor, de sofrimento
quero agora um tempo de vida amena

Zedlav

Voa pedacinho da minha carne
Ao encontro da paz, do amor
De compreensão,tão carente
Voa livre meu botão em flôr

Soltei tuas frágeis asinhas
Ao encontro de ti próprio
Livre de coisas mesquinhas
Não mais prendo teu destino

Aqui quedo só e desolada
Aqui quedo para te acenar
Meu lenço ao vento agitarei

Minha alma tão magoada
Minhas mãos buscando teu sonho
Teu aconchego, teu beijo

Aqui quedo só, desolada
Aqui quedo para te acenar
com lenço ao vento agitarei
Para a ti chegar meu soluço
Meu grito, minha dor

Zedlav

Sinto-me vagueando
Que rumo seguir?
Vivo, caminhando
Para onde não quero ir

Há quanto tempo quero parar
Estacar, sentar e meditar
Um rumo qualquer que seja
Há minha pobre vida dar

Zedlav

Passos, somente passos
Duma vida errada,sem prestígio...
Eu quiz ser mulher prodígio
Aqui estou em pedaços!...

Desisti de tantos caminhos
Mesmo antes d'os encetar
Medo? Querendo pregaminhos
Só esta cobardia a m'aniquilar

Virei página sobre página
Dia a dia abandonei-me
Soa triste minha sina
Mas hoje de tudo culpei-me

Quiz esposa ser, casta
No sonho, na imaginação
Mas a rebeldia alastra
Estoiro de tanta resignação

O amanhã soa igual a hoje
Já não há livros nem nada
Só desengano em meu alforge
E esta sensação de abandonada
Zedlav

Mulher
Acorrentada na treva
Desinibida mas cobarde
No amor se aferra
Do sonho se acorda
E a realidade é tão dura
Tão fria, tão amarga
Na mulher há a armadura
O escudo com que se protege
Das desilusões que a ferem
Mas tantos tramas se seguem
E a perseguem que se aniquila
E como uma flor ela vai esmorecendo
Sempre com aquele triste sorriso
Aquele esgar de dor em sua face
E aquela lacuna, só um riso
Ainda a estremece - os filhos
A sua carne, a sua ilusão
volta-se dedica-se a eles
E eles esquecem e se vão
E a Mãe esquecida e só, recorda
Aquelas suas recordações,tão suas
dão-lhe aquele esgar
Aquele triste sorriso de solidão

Zedlav

O sarcasmo e a ironia
jamais as deixei em mim entrar
seria uma perfeita vilania
ter de com elas mia alma partilhar

Sou cheia de imperfeições
tão pouquinhas as virtudes
p'lo que observo nas multidões
sou demais honesta nas atitudes

Não julgo p'ra não ser julgada
mas reservo-me p'ra mim o direito
de ter um livre pensamento
e de por vezes vezes me sentir indignada

Se disser que gosto da vida
ai rir-me-ei provávelmente
se disser que confio em alguém
direi não, rotundamente

zedlav


quarta-feira, 28 de março de 2007

Como eu era apaixonada
teu ar eu bebia a sorvos
teu olhar fazia-me desabrochar
em teus braços senti o alvorecer

E quando a ti abraçada
sem roupas, nem estorvos
eu conseguia m'abandonar
até mia alma estremecer

Teu olhar eu buscava
porque tanto t'amava
hoje não te procuro
porque tudo é obscuro

Busco a solidão no meu ser
queria ser amada e não fui
queria em mim a fogueira acender
mas em mim nada deles flui...

zedlav

segunda-feira, 26 de março de 2007

...

Sei, sempre soube
desde o nosso começo
Que o amor trouxe
Que haveria um desfecho

Em mim nada feneceu
Revive nossa linda história
Que foi breve mas não impudente
Abandonei-me encantada

Nas tuas minhas mãos entrelaçava
confiante, por ti esperava
Eras ainda só meu
Nos meus espaços, no meu céu

Enamorada tudo de ti falava e fala
E sonho o que minha boca calava e cala

Zedlav

quarta-feira, 21 de março de 2007


Irmã África

A palavra poisando
tão leve e devagar
uma a uma levitando
para logo s'amontoar

Com a eterna saudade
lágrimas lavando no mar
com memórias sem idade
seu calvário soube levar

Com palavras ergueu
sua "Cabana de Palavras"
dela vê o mundo, o céu
nele deposita suas safras

Até sua "Cabana de Palavras"
chega o cheiro intenso a maresia
os sonhos voam sem amarras
p'ra longe levar sua nostalgia

zedlav

Exausta desta luta insana
cansada da vida romantizar
tão orgulhosa e ufana
num tempo que nem vi passar

Meu peito sem humildade
ergui numa luta desigual
ganhei...perdi...,e a bondade
busco-a no lodaçal

Vergo-me ao peso da renuncia
de sonhos belos ultrapassados
uma vida de sonhos amassados
feitos com tanta minúcia

Resta o silêncio e o abandono
o escudo da distante frieza
mas de seu abono
só tem mesmo a tristeza

zedlav

sábado, 17 de março de 2007


terça-feira, 13 de março de 2007

As folhas tenras brotam
verdes d'uma terra prenhe
a primavera a chegar
o sol tímido a brilhar

Será que outras primaveras terei?
Ou tudo irá p'ra mim findar?
Será que as folhas outonais
no fim do ano ainda pisarei?

Já os olhos á tanto secaram
agora que as lágrimas queria
Mia pobre alma lavariam
bom ou mau não sei se seria

Mas ainda me extasio
os rebentos olhando
jamais me enfastio
com o que a natureza
me vai proporcionando

zedlav

segunda-feira, 12 de março de 2007


Minha irmã África

Escuta em silêncio o mar
abre as tuas asas e vem voar
no sonho, na imaginação
nunca refreies a tua emoção

Mia irmã África Lena
ouve os tambores, a batucada
que ferem a noite sem pena
e só se calam de madrugada

A lua as anharas encharca
com sua cor de prata as marca
o som da vida que s'agita
em noites qu'a todos enfeitiça

O cruzeiro do sul no céu estrelado
os cheiros do capim qu'ondula
dessa terra d'um tom avermelhado
em que o dia s'espreguiça e não pula

E quando o sol rasga a madrugada
e os sons da noite por fim se calam
a lua esconde-se de tão embriagada
as árvores cantam e os insectos falam

Mãe África sai da cubata
nas costas com sua criança
atiça a fogueira com galhos da mata
sorri por fim com tanta esperança

O ribeiro endiabrado saltitando
faz as delícias da criançada
sem brinquedos, nele vão brincando
ao som do chilrear da passarada

Da moamba, da funge reclamam
enquanto Mãe África vai á lavra
sabem que voltará porque a amam

Seu homem na cubata esperando
Ouve o vento, sabe que choverá
mais um dia está começando
o futuro a Deus pertencerá

zedlav

Lena

Meus sonhos são embalados
p'lo rugir forte ou calmo do mar
em momentos mais desesperados
a coragem a ele vou buscar

Os olhos cerro por vezes...
e deixo-me p'las ondas do sonho levar
nas ruas de mia terra chego a passear
até os cheiros consigo distinguir e aspirar

Passaram centenas de meses
Desde que a minha África deixei
aqui passei muitas revezes
Mas este sonho, voltar, sempre acalentei

Lena, amiga, sobrinha neta, colega...
contigo melhor ainda o regresso seria
era matar esta saudade dolorosa e cega
só um momento,era o que eu mais queria

zedlav

domingo, 11 de março de 2007


O mar chora com um lamento amargo
A mia vida parece ter-se dividido
p'ra sempre e eu quero-a de volta
as árvores e o vento parecem troçar

Cálice este que eu não trago
busco ás apalpadelas o tempo perdido
quero aquela mia alegria tão solta
quero ajoelhar-me e as lágrimas soltar

Vou contá-las uma a uma como notas,
como sustenidos, como ondas do mar
como as estrelas que tanto amo
dia a dia forretamente vou contar

Meu sonho era a África um dia volver
àquela mia terra as árvores abraçar
sorrir àquele sol que me deu vida
sonhar...quero lá ir antes de morrer

zedlav

sábado, 10 de março de 2007

Ás vezes penso que tanto perdi
por estupidez, talvez inocência
momentos em que disse adeus
e que sómente deveriam continuar

As lágrimas não as colhi
hoje só me resta a paciência
e quiçá orar a este meu Deus
para poder seguir a caminhar

Busco no sol a coragem
Na brisa que tanto amo
A força que a mim chamo
Não irei p'ra outra margem

Zedlav

quarta-feira, 7 de março de 2007

Que te fiz meu Deus
p'ra ter esta notícia
não sabes que tenho medo
e que já tanto sofri

Ainda não é hora do adeus
apesar de toda a mia nostalgia
tenho medo apesar de meu credo
tenho medo porque pouco vivi

Quero ter força meu Deus
e dobro-me á desgraça
só sei que não é hora d'adeus
um milagre em mim se faça

Desde aquela hora
só penso e não quero chorar
porque não adianta
quero a coragem que não chega

Meu destino já em mim não mora
vou ter de ter paciência e aguentar
a vida em mim já não conta

zedlav

terça-feira, 6 de março de 2007

A minha vida passou tão rápido
ou terei eu passado por ela rápido
sei que ainda quero um futuro
para isso na vida dei tão duro

Não é para agora tudo terminar
Porquê?...Porque logo eu?...
Não, eu não vou pôr-me a chorar
mas meu destino já não é meu

Como queria tudo partir
estilhaçar e correr, correr
de tão má notícia fugir
mas só a mim posso recorrer

Estou tão mas tão zangada
comigo, com esta injustiça
na vida não serei mais precisa?
Não eu não estou ainda acabada

zedlav

domingo, 4 de março de 2007

Vasculhando no meu sotão
Deparei-me com a solidão
Embrutecida p'la amargura
Negando sempre uma ruptura

Quisera inebriar-me p'las coisas
Deste mundo para não sentir
Por vêzes ultrapasso sem fugir
A indecisão nas vias sinuosas

O meu pequeno sótão
Está de pernas para o ar
Está tudo de roldão
Como eu, precisa de arejar

Agora não quero vasculhar
Perder mais tempo a arrumar
Temo o tempo que nele perdi
Se por esta razão até ofendi

Machuquei-me vezes sem conta
Ao pensar metê-lo na ordem
Dia a dia só recebi afronta
Agora deixo-o na maior desordem

Penso, o meu mal é muito pensar
Deveria deixar andar este mundo
Mas como, se minha vida é recordar
Quanto mais recordo,na nostalgia m'afundo
Zedlav

Em cada ilusão desfeita
Floriu uma ambição pequena
Cada riso que dei, o pranto adveio

Terá valido a pena acordar
Se não tenho porque serene
Só este inferno que adveio

Zedlav

MULHER

Quanto de belo encerra
Esta triste e bela palavra
Fadada há renúncia
Tudo dando, nada espera
Submissão a sua lavra
É todo o nosso prefácio

Um dia quando finda
Esta tão longa estrada
Para epitáfio "nossa missão"
Do luminoso rasto de mulher
No esquecimento é coroada
Quando mulher significa paixão

Afirmo que mulher é paixão
Pois precisamos de amar sempre
Esta ânsia tão constante
É a nossa seiva, nosso pão
Enfim, ledo cantare
Sonhamos com a glória desse instante

Que importa a decepção
Ou mesmo o drama
Se a alma alvoraçada pelo paixão
Tal humano deseja clama

Sômos seres singulares
Nós mulheres
Complexas, solenes
Mas, mulheres

Tanto encerra tal palavra
Como o é singela
Nossa vida trova d'aventura
O amor a nossa cela
Zedlav

Sinto uma imensa angústia
Por esta louca solidão
Quero viver.E é esta ânsia
Que m'ergue nesta podridão

Neste deserto, perdida
Que estrada seguir?
Sinto-me dormente, ferida
tanto me custa prosseguir

Tenho de aprender a viver
neste mundo horroroso
seguir sempre, parar de temer
e adaptar-me ao pavoroso

Parar no tempo, no sentir
em minha asfixiante desilusão
Não quero temer o que há-de vir
Invade-me somente esta frustração

Ergo-me quão devagar
Desta dor, desta traição
Já nem o consolo de me resignar
Estimula minha alma, meu coração
Zedlav

Irrompe o sol de gémulas doiradas
Mais um dia vem igual a todos
Ergo-me da noite sem sonhos
Meus olhos de tudo despojados

Vazia, seca, qual árvore estéril
Revolto-me por ainda pensar
Quanto em meu passado feliz
Eu quiz um raio de sol agarrar

Da luz à treva passei
Minhas preces desfiei
Quantas lágrimas, choro
Me atolei no charco

Mais infeliz...não pude ser
cobri-me de tristeza, amargura
Emaranhei-me nos meandros da loucura
Por tanto o raio de sol querer

Ai como se fez agre o que era mel...
Minha alma ficou da cor da noite escura
Zedlav

E vagueia espírito neste vale
De montes agrestes e tortuosos
Foge-vos a alma, a ventura
E digo - tudo está mal
Pertencerei aos virtuosos?
Tudo é uma enorme mentira

E seguimos arrojados
Nós os fracos os falhados
Já sem o nosso rumo
Na leva deixamo-nos encaminhar

Escudando-nos no cinismo
A alma vira estrume
Nós arrojados fracos a penar
Já nem sobra qualquer lirismo

Tanto ficou por fazer
Pois nem se chega a começar
E um dia tudo pára
Pois só se buscou prazer
Esquecendo de algo também dar
Zedlav

Já o eco não recordo
Das noites de batucada
Só do nada me recordo
Penso triste mas calada

Tudo eu abandonei
Só queria encher meu peito
das noites de batucada


Zedlav

Silêncio...
Impus a mim mesma
De ti, por ti, foste és
A minha linda aventura

De ti o meu silêncio
Fôste a minha alegria
Seguirte-ia até ao inferno
Minha adorada quimera

Uma quimera palpável
Que um dia abracei
Quiz a este ser amável

Minha querida gaivota
Recordarás como eu
Todos os instantes de idílio

Minha querida Gaivota capelo
Tanto doido amor foi sopro
restou uma coroa da cor dos halos...

Amei a vida contigo
Ensinaste-me a extasiar
Com tudo e nada
Mas foi bom demais amar

Zedlav

Mãe

De ti Mãe nada quero
Somente ser tua filha
Pois até quando desespero
Logo teu nome clamo

Quantas vezes com qu'angústia
Com todo o ardor da amargura
Mãe, minha Mãezinha querida
Quanto amor sinto, quanta ternura

Quero o teu olhar meigo
Ouvir a tua voz mais uma vêz
Quero o afagar das tuas mãos
Quero o teu beijo amigo

Mãe eu amo-te sinceramente
Quisera puder fazer algo por ti
O mundo, o paraíso ofertar-te
E nada te dou, infelizmente

Só, somente este amor
Esta saudade, este vazio
Porque aqui não estás
E este amor vira uma grande dôr
Zedlav

Pela vida deslizando
Desilusões somei
Vagarosamente caminhando
Tristemente t'idealizei

Buscando no espaço
Um corpo, uma face
No tempo esbocei o traço
De um homem com classe

Pincelada a pincelada
Idealizei um ser maravilhoso
Eu estava encantada
Com um amor tão fogoso

Neste ser tão absorvida
Passei horas idealizando
Uma história, uma vida
Jamais o mal, dele esperando

Em mim nunca confiou
Nada adiantou a honestidade
De um só golpe m'arrasou
Pôs em causa minha dignidade

Olhei então o luar
Acordei abruptamente
Deixei então de sonhar
Continuei a caminhar somente
Zedlav

Leta só para ti

Da capital d'Angola
Dessa Luanda chorada
Das acácias em flôr
cidade ensolarada

Quais brilhantes incrustrados
As estrelas cintilavam
Quando a noite chegava
E o luar s'espraiava
Nas águas prateadas
O cheiro a maresia embriagava

E sonhávamos com o Mussulo
Mas logo que o dia clareava
Apanhava-se o maximbombo
o maximbombo p'ra Mutamba

Eu vivia na pequena Samba
nesta Luanda que tanto amei
Luanda que um dia deixei

Esta cidade das palmeiras
com seus cheiros m'embriaguei
terra de lindas esteiras
das castanhas do maranhão

Da rebita, do merengue
cidade que me roubou o coração
Terra exótica e dengue
Zedlav

Deixem meu amor chorar
Pois não pedi para viver
Quero meu amor chorar
Quero ser triste
Minha dor pela estrada
Arrastar
Deixem meu amor chorar
Porque por ele não posso gritar
Somente chorar
E hoje já não sei cantar
Nunca em seus braços
M'envolvi e gemi
Porque então calar
Fingir algo que não tive
Não quero rir
Deixem meu amor chorar
Porque dele nada tive

Zedlav

Já não me chegam
esses momentos d'amor
fugazes qu'não ateiam
nem minguam todo meu ardor

Sinto este desejo recalcado
tantos anos oprimido...
Já não consigo tê-lo calado
pois é labareda queimando

Já não me basta fingir
que esses momentos fugazes
em que te ouço falar e rir

Ás vezes julgo ainda sentir
Um amor doloroso, vivente
Mas o ciume logo atrair
recordações más, pungentes

Longe de mim, no meu eu!
Vejo não, apalpo, só memória
Quiz ter, ambicionei meu
Sonhei quão linda história

Sempre este qu'outros não conheceu
Vivo no intermédio eu, não eu...
Sinto que meus sentidos adormecem
Tanto lutei por esta paixão que me envolveu
Zedlav

Quem me dera
Ao mundo deixar algo
Algo de quanto sofri
Mas que sempre, sempre
Na esperança eu vivi
Na Fé minha vida depositei
Mesmo quando tudo
Deixou de ter valor
de me importar
Somente para ti volvi
Meu olhar, minha crença
Na natureza eu revivi
Meus sonhos, minha infância
A tudo quanto m'entreguei
E meu fado tão adverso
A ele nunca me submeti
Zedlav

MINHA PRECE

Avé Maria, Avé Maria
Senhora minha, perdoa Maria
Lutando p'la vida esquecemos
Os Mandamentos perdemos

No sofrimento e na alegria
existe a falta de esperança
pelas agruras da vida Mãe Maria
A ambição-a pujança

Avé, Avé, Avé Maria
Ajudai-me Senhora Minha
Eu sou uma desgraçada Maria
Suplico-vos não me deixeis sózinha

Qual trotura, demais troturante
Tudo farei para disso me livrar
sei quanto é difícil, doravante
Hei-de vencer mesmo
Que me tenha de aniquilar

Avé Maria, Avé, Avé Maria
Ajudai-me Senhora Minha
Pois contigo não mais estarei Sózinha
Zedlav

Sinto essa desilusão
Que já não surpreende
Mas abala até à exaustão
Será o amor que me prende?

O amanhã nada mais trará
só a neblina deste romance
sinto e sei que não fenecerá
oro,mas já não sei mais nenhuma prece

Esta solidão...
Este tormento...
paradoxal a paixão
só traz sofrimento

E busco esse teu olhar
tão terno como às vezes sabe ser
não mais te quero idolatrar
tu só me fazes padecer

Um dia tudo te ofertei
A mim só o fel me deste a tragar
Absurdamente te beijei
E tu só me soubeste enganar

De ti nada espero
Só um pouco de decência
pois viver no desespero
a qualquer um traz demência
Zedlav

Como foi bom encontrar-te aqui
Com um poema cantado a uma cidade
Que apesar de minha não ser,a senti
nela férias passava, ficou a dor da saudade

A Kalema na praia da Barracuda
Até na de S.Jorge havia baleizão
O país mais belo sem dúvida
Por todos nós amados com paixão

Para ti Leta um beijo imenso
Do tamanho da lua de Luanda
prateando as águas da restinga
Fico à espera do teu cantar amiga

Zedlav

Penso hoje em dia
Que deixei por completo
De ser gente, de ser um ser

Os livros que devorava e lia
Tentando aumentar meu intelecto
Até isso deixou de ser um prazer

Buscava neles também
A paz, a harmonia
Que tristeza, porém
encontrei sim o que não queria

Vivo e penso hoje em dia
Que não sou ninguém
O mundo que tanto sonhei e queria
Ah! Esse é somente utopia
Zedlav

Enlouquece-me, tanta fragilidade
Tanta confiança qu'em tudo depositava
Que horror pensar que havia dignidade
Que meu mundo existia como eu pensava

Hoje, aqui, esta sou eu
Sem sonhos, sem ilusões
Tentando libertar-me do qu'era eu
Firme o bastante em minhas resoluções

Fui até ao fundo do poço
Amigos tive para não me afundar
Quiz morrer, mas não quero não posso
Por vós dois voltei a lutar

A lutar, não a amar
A vós dois sim, sempre vos adorarei
Mas quero somente seguir em frente
E nunca, mas nunca mais chorar
Zedlav

Quero voltar a rir, a cantar
Ao vento teu nome soletrar
Acordar a ti abraçada
contigo sentir-me realizada

Não mais quero despertar
não quebrar a magia do sonho
Quero viver para te amar
Esta esperança em ti deponho

Sei que é uma quimera
este amor tão antigo
voltou com a primavera
como é bom estar contigo
Zedlav

Nas asas do esquecimento
meu passado enterrar
Foi tão intenso o sofrimento
Que momento algum quero recordar

Quero apenas esquecer
O que já sofri o que passou
Por ti,por mim, por tanto querer
olvidar o que tanto me magoou

Esquecer meu destino
Que até já está traçado
Como com ele desatino
Que destino desgraçado

Sempre a morte pairando
Neste músculo tão cansado
A morte estou esperando
Tudo o resto é passado
Zedlav

reencontrei-me?...
Ou finalmente conheço-me
Já não me revolto
Meu sorriso solto

Não recordo momentos
Vivo o meu instante
Da experiência de tormentos
adquiri paz constante

Minhas rugas, lágrimas
Minhas cãs, a velhice
Renovou minhas rimas
ultrapassou a crendice

Vejo, muito observo
Tudo quanto me rodeia
Decepciono-me, claro
mas já não tanto

Aprendi no verbo
Presente do ansiar
Qu'o impulso é amaro
E a nada leva o pranto

Lutar e sobreviver
Viver, dar, amar
tudo para fenecer
P'ra quê então apaixonar?

Zedlav

Almas mortas, mortas
dos que já não sentem
almas destruídas
puras que sofrem

Almas mortas, mortas
que outrora tão puras
iguais umas às outras
hoje áridas, desertas

Almas mortas, mortas
não somente as mortas
as que já não encantam
as que já não fantasiam

Quando o sonho vira
somente pesadelo
alma morta, vira
resta o eterno flagelo
Zedlav

Piedade

Orvalhos cuja gotinha
Anseio que cubra minha tumba
Asfixio nesta guilhotina
Quero qu'este mal sucumba

Eu não quero amaldiçoar
Somente meu corpo enterrar
Voar, paz, não mais pregos
Não mais me crucificar

Para quê orar, orar...
Pedir piedade...
Por mim Deus só me pode ajudar
Com a doce luz da eternidade
Zedlav

Que canção esta que escuto!...
Incerta, inquieta, vibrante
como que num terramoto
tem um eco enervante

Da treva a prece atroa
Da luz o sorriso irónico
Na minha sensibilidade tudo toca
é sempre drama, tempo critico

Evola na luz peregrina
vasei-o de ilusões, de esperanças
enchi-o de saudades de menina

Presumo de génio boémio
invoco o meu eu só meu
lágrimas sinto verter
com tanta maldade e desengano
p'ra quem já tanto sofreu
quero ao espaço volver

Zedlav

Quem ao tempo doou o corpo
envelheceu e não se machucou
A quem o tempo não passou de sôpro
E a sua alma não mirrou

A quem o tempo aconteceu
sem recordações e lembranças
então viver de nada valeu
por haver permanentes bonanças

A quem o tempo não tolheu
o incerto passo indiferente
se só flores se colheu
então a vida de nada valeu

Porque ninguém vive o tempo
este tempo tão precioso
ninguém o absorve totalmente
como jóia mui ciosa

O tempo é o instante
que veio e algo se criou
ele passa flagrante
e vê-se que nada se gerou

Gera-se na natureza
que absorve o tempo
na totalidade, com pureza
Zedlav

Tanto quis a lua
tanto por ti sofri
tanto desejei ser tua
que metade da vida não vivi

Eu pedi tanto à Lua
para um dia reencontrar-te
já nem peço para ser sua
somente quero olhar-te
Zedlav

Encontrei um lugar para mim
lagoa azul, montes, pinheiral
silêncio, tristeza tudo enfim
abandono,belo, qual manancial

Sorvi-te gulosamente
desesperada te abracei
o rio corre mansamente
nele tanto mergulhei

Só, contigo solidão
madruguei para te olhar
quiz teu encanto trazer

aí deixei meu coração
meu vazio, meu cantar
maravilhoso o anoitecer

Minha rede em teus pinheiros
o lento marulhar das águas
o aroma do ar, teus cheiros
já aqui não cabem mágoas

Este o lugar para mim
me revi nas estrelas
nas sombras da noite
nostálgica fiquei sim
quando me despedi delas
Zedlav

O lago banhado
por turvas águas
nas margens semeado
por urtigas espinhadas

tuas águas tão turvas
paradas, estagnadas
não há beleza
só uma natureza esteriotipada

Já não há em ti vida
dentro tudo sucumbiu
de lodo ficas-te preenchida
e a poluição proliferou
Zedlav

Ouvi falar, despertei
Eram pássaros chilreando
A mim então voltei
Eles sumiram cantando

Despertei da letargia
Há anos hibernada
como que por magia
fui então despertada

longa, longa queda
mas nem barafustei
deixei-me para aí
tão muda e queda
Zedlav

Porque voltei a encontrar
meu pranto meu mundo
não queria mais sonhar
sózinha a estrada trilhar

A mim não mais permitirei
tentar o sol vislumbrar
pois sei que sofrerei
mesmo, só de recordar

Já não mais tenho tempo
tudo em mim findou
na estrada da vida tanto passei
que minha alma secou

meu desejo sublime seria
um afago, uma carícia
não deve existir maior delícia
e eu tanto isso queria
Zedlav

sábado, 3 de março de 2007

Busquei a seiva da vida
para me preencher
vislumbrei o clarão do amor
a quimera encontrei

Enrodilhada na vida
emaranhada na mentira
no erro no desespero
encontrei a desdita

Nela busquei a vida
a F'licidade o amparo
quanto mais sofria
mais há esperança recorria

Calcorreei a estrada da vida
como cega tacteando
ergui meu sonho, meu ideal
em minha neura mente

Escudei-me da vida
com um fictício sorriso
as lágrimas escondi
caio, cambaleio, sofro

Estou cansada da vida
joguei, perdi, todavia
sinto-me a ela agradecida
amadureci com minha historia
Zedlav

Entrelacei palavras
criei meu mundo
os sonhos mias lavras
mergulhei bem fundo

Nesse mundo mágico
onde as palavras criavam
um final feliz e não trágico
mias memórias s'agarravam

Tantas palavras imortais
entrelacei e a elas m'abracei
não querendo eu jamais
pensar que alguém magoei

Queria ser eu assim
só... triste...enfim
mas com ANGOLA HARIA
voltei a sentir alegria



Zedlav

Tantos anos se passaram
desde então...
para mim não mais repicaram
sinos de Felicidade, não

Há muito, muito tempo
tu e eu dois adolescentes
brincávamos, corríamos
ilusões forjávamos inocentes

Nosso mundo o castelo
a bandeira da ventura ondulava
o sol tórrido cobria o pesadelo
só a pureza em nós perdurava

Passava o cacimbo
o calor chegava
as férias esperava
quão ansiosa querido

Tão menininha eu era
meu sonho, meu amor
quanto tempo passou
um século, uma era

Após então, paixões
maiores ou menores eu tive
mas somente decepções
infimas eu obtive

Infimas porque te recordo
fôste meu principe ideal
que a vida m'arrebatou
mas continuas a ser o meu ideal

Zedlav

Vivo perdida no labirinto
da magia, das emoções
na confusão que sinto
presa de tantas evocações

Quero apenas o descanso
o silêncio eu busco...
só no escrever alcanço
a verdade m'assusta

Vida-apenas a passagem
eu... triste passageira
nunca cheguei à outra margem
somente da dor, mensageira

Quiz, sonhei, lutei
p'lo caminho m'enganei
amor, dinheiro, paz
NADA, tudo se desfaz

Zedlav

Um livro nosso quiz compôr
de projectos, d'alegrias
um livro de sonhos a nascer
livro de duas vidas amadas

Livro triste este, nasceu da dor
repleto de mias fantasias
acabou em mias mãos a morrer
coberto de lágrimas amarguradas

Neste mundo então perdida
os sonhos eu despedacei
não tive coragem,não confrontei
prefiro em meu canto ficar encolhida

O livro esse,na vida perdeu-se...
não houve herói, nem história
os olhos ao mundo cerrei
avara guardo essa fugaz memória

Nem nele cheguei a pegar
suas breves folhas não deram
nem para as desfolhar
mas a mia vida arrazaram

Zedlav

O gemer do vento, vago e triste
Qu'entristece mia alma tão triste
que tanto esperou p'lo amor
trajou-se de luto e de dor

Os raios de sol apagaram-se
a pouco e pouco e escureceu
as estrelas e o luar desapareceram
o mar só ele restou p'ra m'acompanhar

Mia voz rouca finalmente
calei...calei...calei...
e o gemer do vento, vago e triste
assemelhou-se á mia dor e chorei

Já não pinto o sol em mias telas
nem o céu, nem o arco irís
a morte impressa nelas
das cores garridas me desfiz

Deixei o vento em mim gemer
Mia dor a ele juntei
o riso da tristeza...a lembrança
já nem a desmaiada lembrança




Zedlav

Brinquei, bailei meu merengue
reconheço meu amor meu batuque
saracoteando, vivi, cresci
d'Angola não me despedi

Que angústia, que saudade
queria rebolar em meu chão
ver palmeiras, solitários imbondeiros
o cheiro da terra, ouvir o trovão~

Zedlav

sexta-feira, 2 de março de 2007

Ai de mim, que vagueio
cega, apalpo meu caminho
aí de mim p'lo que anseio
desta vida neste torvelinho

Dizer que sou, fui feliz
rebusco em mias memórias
concluio, quase fui por um triz
nem quando eu queria histórias

Nessa altura sonhava ser madre
recordo nitidamente essa fase
apesar de pequerrucha, meus altares
minhas queridas e inventadas preces

recordo com horror, minha doença
o medo , o terror aos negros
a horrível e constante sensação
da morte,da guerra,dos massacres

Apercebi-me na escola dessa triste
e martirizante realidade
o medo, oterror, mas não da opressão
dos negros da sua triste verdade

Cresci com o medo
mas sem o confessar
uma história sem credo
muito medo a ocultar

Zedlav

MÃE, meus versos, quadras
tudo quanto de mim saí
existe porque aqui não estás
pois a dor repartida não dói

Junto a ti sinto os sinos
o piano, o violino
até as estrelas me beijam
de ti tão longe que destinoMÃE

as flores reabrem
suas pétalas mais garridas se tornam
o vento canta, passaros chilreiam
quando junto a ti m'encontro

O sofrimento, os problemas
a rotina tudo é infimo
até o fado chorado m'agrada
quisera fazer-te lindos poemas

Minha MÃE que saudade
de ser ainda a tua menina
para junto de ti estar sempre
sentir sobre mim teu olhar de bondade

Quanto contigo aprendi
Minha MÃE linda, adorada
mas a única lição que jamais esquecerei
é venerar-te minha Esther amada

Zedlav

POEMA DE MARIA
Arrasto-me ao som desta horrível melodia
sofro ao sabor da sinfonia
já até lhe perdi o tom
Por vezes esta triste melodia
aumenta o som e sou torturada
a agressão e sou espancada
Não mais há esperança, só nostalgia
Porquê meu Deus tal vida
se a tudo me submeto
cobras-me grande divida
tanto tempo, já não aguento
tenho medo, muito medo
sou pequena, uma formiga
corro, fujo, escondo
nem o consolo de uma alma amiga
Vou ao sabor da maré da vida
contam-se os felizes dias que vivi
recordo somente, violência, a desdita
Deus, uma vida normal a mim permiti
Não sou a primeira a quem a vida pisou
só o luto da vida
que para mim findou

Assusta-me a independência
adoro evocar e parar
nesse meu longínquo passado

Voltar no tempo, na adolescência
minha terra volver, então sonhar
a realidade, tudo terminado

Não fui eu que semeei ventos
mas eu colhi as tempestades
senti o horror da morte, vi lutos
vi, olhei corpos mutilados

Quiz ser andorinha p'ra sempre
ser livre,triste e enlutada
só não queria ver a realidade de frente
pois senti minha adolescencia cortada

Fiquei sem LAR, sem o meu LAR
os amigos todos dispersaram
só o som dos tiros, o caos desabar
perante mim os silêncios pesaram

Como um matraquear a debanda,
a fuga sem nexo, todos acobardados
a brisa a pólvora cheira que tresanda
as cidades com aspectos desolados

Silêncio só e mais silêncio
mudo que conhece o medo
despojos humanos, a descrença
Terra nossa sem esperança

Zedlav

Tudo me acorrenta ao mesmo tempo
já nem meu pensamento é meu
dia a dia somente o contratempo
e o medo de quem tudo cometeu

Quem me dera alguém m'entender
talvez tu, talvez já ninguém
e esta ânsia tamanha que me consome
Deus meu por tudo quanto desdém

Como seria tão bom
que existissem asas
asas do esquecimento
Embalar-me-ia nelas

pois tanto tenho a esquecer
esquecer tanto sofrimento
Voaria para a paz do espaço
livre de tantos pensamentos
que magoam m'entontecem
livre enfim sem tormentos

Zedlav

Olho-me ao espelho...
antigamente com que desvêlo
hoje nem em mim reparo
se só com rito de tristeza deparo

Vejo toda uma fita no espelho
a fita negra de vida enlutada
a fita dramática num desfecho
como num conto bem encadernada

Olho-me ao espelho...
e nada de mim vejo
sorriso, lágrima, só desmazelo

Busco refúgio de minhas penas
nestes breves versos,quadras sei lá
gosto das noites, porque são amenas
só o sono e aquela esperança vã

Quando a noite caí e tudo escurece
cerro de mansinho meu ninho
ao mundo que tudo embrutece
e cavalgo para ti, para bem pertinho

Zedlav

Quantas vezes me sinto perdida
quantas e quantas olvidada
neste meu pequeno mundo
que nem é vida nem mundo

sinto a imaterialidade da vida
a distância do pensamento
nostálgico, perceptivo, desvalido
interrogo a ânsia qu'em mim divaga

perco-me no diálogo da sociedade
acorda em mim a realidade
o sonho, o meu mundo de maravilha
como que um pena voa, brilha

Quisera ser gaivota e voar
nos céus minhas asas espreguiçar
e neste mar de Deus meu corpo
de ave mergulhar e banhar

Zedlav

Vou tentar podem crer
versos engraçados escrever
pois adoro rir e cantar
uma boa anedota ouvir contar
Eu filha dessa terra Linda
um dia Dalatando, outra Salazar
teria de passar o morro do Binda
a kissecula para lá chegar
De todos vós preciso e do violão
para nossa terra cantar
a letra tem de ter muita paixão
para com seu fascínio nos enfeitiçar

Zedlav

ESTE PEDACINHO DE CACIMBO
È para todos nós
que sofremos
que rimos
que choramos
que cantamos
que dançamos
que um dia tudo perdemos
mas não perdemos a dignidade
nem o imenso orgulho de sermos AFRICANOS

Zedlav