sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Meu ledo cantar chorado
dessa minha Àfrica perdida
dos meus matos, das anharas
do pôr do sol avermelhado

D'um chorar batucado
entre charcos de lágrimas
sementeiras em lavras
em mim tão amortalhado

Aqui me quedo neste canto
nesta Europa tão diferente
jamais secado meu pranto
meu viver tão indiferente

Quisera buscar um punhado
dessa terra tão vermelha
p'ra em mia tumba deitar
não me sentir tão abandonado

Meu ledo e triste cantar
ecoa sem som nas anharas
já nem vale a pena rezar
Não mais ouvirei batucar

zedlav

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Vem o vento repor o tom
olho as mãos vazias
o sopro passou distante
fui eu já não o sou

Só as rugas da tristeza
de quem fui que já não sou
a voz passada, turvada
p'la vida da incerteza

Do saber que ávidamente busquei
das leituras que tantas horas
meu tempo sem tempo se perderam
do caminhar sentido e abandonado

Sem sonhos meu sentimento
sem futuros sem passados
sem questões, sem ilusões
sem metáforas, sem peso

Gotas frias cristalinas
lágrimas em sulcos trilhados
desapiedadas, burlescas
estropiadas, mas já sem vida

O cimento o descanso impresso
na imensidão do ocaso expresso
em tábua,em lápide oca
num remanso de paz e tristeza

zedlav

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Fico olhando o vazio
ao meu livro agarrada
limito meu horizonte com fio
tão finito...abandonado

Para quê?...
sempre cada um p'ra seu lado
onde ficou o diálogo?...
a vontade de 'star colado
para quê então?...

É muita solidão
esta que me rodeia
acordo com uma sensação
d'abandono que tristeza só semeia

Quero fugir
quero chorar
e aquele abandono
estou sempr'abraçar

zedlav

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Meu conto, minha lenda
em meu seio escondo
inventei esta linda lenda
meu ouro,meu adorno

criança, mesmo moça feita
sonhos feitos de pureza
angélicos,impossíveis
impulsivos como minha natureza

sonhos bons, de paraíso
correndo no bosque,
voandodestemida,
ecoando o riso
qual cascata sua água saltitando

Envolta num tule de espuma
miosotis coroando seus cabelos
cavalgando na onda do vento
buscava-te na dourada duna
tu meu então desconhecido
encontrava-te no esquecimento

Uniamos o sonho e nele
nosso amor embalávamos
no mato nos entrenhavamos
eu e tu então amor desconhecido

Riamos brincávamos em nosso castelo
castelo eregido de brancas nuvens
de sonhos bons, de lendas
Um dia sofri, o sonho, o castelo
Evaporaram-se em negras nuvens
colhi anos e anos as cinzas das feridas
do sofrimento e então devagarinho
montei com cinzas e revivi minha lenda
no meu seio depositei-a
bem escondidinho

Zedlav

Uma quimera dourada
uma paixão de verão
que na areia amarelada
fenece-lá diz o refrão

Uma paixão abrasadora
que dia após dia floresce
que maravilhosa aventura
mais um sonho qu'esmorece

só a recordação ficou
para o vazio preencher
da quimera algo restou
experiência p'ra não voltar a acontecer

E de novo nos aniquilamos
com a rotina do dia a dia
de nada vale nos rebelarmos
perante a impalpável monotonia

Zedlav

Ainda em ti penso
caminhando p'la rua
deixo vir a mim o passado
preencho-me com memórias

Por vêzes nem alcanço
o perigo do trânsito
raiva, amor,tristeza
enche-me o vazio amor

tantos anos passaram
já nem recordo seu começo
tão ténues as lembranças
deste amor qu'ainda estremeço

Foi amor, é amor
que palavra tão subtil
És feliz? Eu não sou.
Porque só por ti senti amor

Quero, oh Deus, como quero
agarrar-te em minha lembrança
quero que não me abandones
nesta vida em que só me resta esperança

Zedlav

Longe de tão longe eu vim
tudo hoje é um passado
meu destino não o quiz assim

A esta terra cheguei um dia
31 anos já dura este exílio
voltar à minha terra queria
aqui me quedo solitário

Recordo os montes verdejantes
o meu vale, o céu luminoso
os passaros de cores berrantes

tudo terminou e aqui cheguei
cedo me carpi nos desenganos
e a ilusão da minha mocidade
pagou o tributo de ser RETORNADA
envelheci em meus verdes anos
e só me resta esta saudade

Zedlav

Meu querido cantinho
Quão longe, minha terra
o rio passando devagarinho
meu vale rodeado pela serra

Angola dos feitiços
das batucadas ao luar
dos negros e mestiços
porque te foram libertar

Tu, meu mato
ondoleando, requebrando
com seu mistério solitário
a pureza, o perigo contrastando

Meu querido cantinho
SALAZAR minha linda terra
de Angola o canteirinho
o jardim da saudade eterna

O vento esse cantava
entre as folhas verdes
o sol esse abrasava

Zedlav

Entre as brumas do mar
e colinas de nuvens
abruptas e escarpadas
surge-nos Angola

Oh Angola misteriosa
exótica luxuriantede
mil paixões subjugantes
diabólica, fascinante

A agressividade das montanhas
parecendo imitar bustos erguidos
de formas plenamente torneadas
nunca dantes cantadas

Entre florestas impenetráveis
terra abençoada por ti Deus
Oasis sucessivos de verdura tropical
entre cujos esbeltos bambus
e imbondeiros solitários
se agita um sol de fogo


Pujante de vida
a seiva correndo
terra de negro escravo
como um estigma ou um malefício


Paixões fogosas
como potros selvagens
em liberdade
brotam desenfreadas
numa atmosfera quase constante


Oh terra embriagadora
de paixões paradoxais
sob um sol de fogo fermentadas
Este turbilhão de paixões
o ódio rácico
a guerra desenfreou
rios de sangue brotaram
o ódio. o desespero
o medo, o horror
o homem fulminaram
o poder a propriedade
milhares de vidas ceifaram

Zedlav

Sentar-me e descansar
meu peso, minha consciência
no fundo foi bom errar
para findar tanta inocência

Sentar-me e descansar
minha mente, meu corpo
não voltar a sonhar
pois ele é somente um sopro

Sentar-me enfim na tarde
vendo o azul do mar
pensar que tenho o céu
a palavra dar não voltar a soletrar

Estou no fim da estrada
cansada de tanto dar
de tanto ser mal amada
cansada de perdoar

Cansei-me de esperar a esperança
cansei-me de dar tempo ao tempo
busquei nos cumes a bem aventurança
deparei com mágoas que consomem

Zedlav

Belo jardim encantado
este que eu idealizei
em que tudo s'tá fadado
P'ra paz que nele sonhei

Belo jardim encantado
sem qualquer cadeado
brancas e vermelhs flores
predominando prefeitos amores

Belo jardim encantado
com canários e papagaios
repleto de belos trinados
soletrando para mim adágios

Meu belo jardim encantado
teu jardineiro quão desolado
procurando entre a erva daninha
o coração desta pobre andorinha

Zedalv

Ouvi chorar o vento
meu nome soluçando
então parei no tempo
chorei, o vento abraçando

Mas logo, logo me conformei
pensando quanta miséria triste
olhando em redor me envergonhei
de tanta fome, guerra qu'existe

ouvi então chorar o vento
por este mundo soluçando
caminhei vagarosamente
minha cabeça baixando

Zedalv

E tudo vem e vai
tudo é tão efémero
folha outonal que cai
o amor que ainda quero

De tudo nada agarro
esgoroa-se pelos dedos
sonho que não recordo
só ficam tristes fados

tudo voa, vem e vai
o instante a tristeza
a felicidade que cai
no nosso ser a frieza

Da amargura que não vai
da desilusão que só vem
do choro infindo que sai
a vida infelicidade só tem


tudo voa, vem e vai
só a morte essa sim
vem, fica, não vai
com ela a paz enfim

Zedalv

Eu sou uma desencantada
vivendo numa esperança
de t'encontrar a ti-alguém
vindo dos levantes nacarados
e por ermos, algares céus lavados
corro já tão desalentada
busco então a boa aventurança
porque do fim - nada provém

seduz-me a magia da aurora
busco-a como minha companheira
e quando chega enfim a hora
sucumbo a ela prazenteira

ainda lembro os rugidos
vindos do mar que o luar prateia
na anhara o rio que serpenteia
agora da dor estes gemidos
Zedlav

Ser poetisa é cavalgar
dia e noite nas asas do sonho
com a natureza comungar

Ser poetisa é desprendermo-nos
da magoa do sofrimento
com o lápis esquecermo-nos
do nosso padecimento

Ser poetisa é dor é sensibilidade
ocasionada por um tudo ou nada
é sofrer, chorar, sentir debilidade
pelas injustiças e tanta crueldade

Querer ser deusa e nada ser
é rebelar, é o ódio, a vingança
é ao passado retroceder
inculcando nossa própria sentença

Ser poetisa é sentir a dobrar
ver a vida passar, buscando-a
é sorrir e também blasfemar
mas quantas vezes desprezando-a

É viver num caos de sentimentos
do mundo sentirmo-nos livres
buscar a saudade nos momentos
alegres,pois sômos seres tristes

Zedalv

Meus versos africanos
choram sim nossa terra
que um dia deixamos
a terra que tanto amamos
Amor único chorado
esse que nos roubaram
o cheiro da chuva na terra seca
o som do batuque, cadenciado
o cheiro da terra molhada
o por do sol avermelhado
os sons na noite misteriosa
o nascer do sol espreguiçado
pelos montes raiando
a vida, o começoo sol,
Santa Isabel coroando
nossos sonhos florescendo
Descobrimos a amizade
o amor...
nas ruas brincámos
saltamos, dançamos
mas essa amizadefloriu desabrochou
e tornou-se saudade
e o tempo mais ainda enraizou
e aquela vida terna
um dia findou
dela somente restou
uma forma de dor eterna

Zedalv

Há sorrisos?
Há felicidade?
Onde...
Tanto, tanto a procurei
que aqui estou sentada
cansada do qu'encontrei
aqui estou desencantada
Neste beco não encontrei
nada vi nesta estrada
onde está?
Eu não mais acharei
A felicidade ambicionada
Eu tanto, tanto procurei
que cansada aqui me sentei
haverá piedade num sorriso
tanto disso eu preciso
Sou magoada...............
busco ainda mesmo assim
um sorriso para mim

Zedalv

Palavras vêem e vão como sonetos
qual violino fazê-las vibrar
do silêncio emergem
envolvem-nos de rompão
são monólogos, duetos
planam... fenecem
Quero as palavras dedilbrar
com meu espírito afagá-las
e no ar...soltá-las

Palavras pensadas
em verso dedilhadas
saltitam as palavras
juntamo-las, afastamo-las
mas sentimo-las
por vezes quão amargas

Quero as palavras pensadas
em verso dedilhadas
voltar a agarrá-las
e em mim prendê-las

São a música do silêncio
das imensas paixões
das guerras, das dores
rimas de canções
mas elas têm cores
têm sonstêm cheiro
têm fados e amores
as palavras têm o vazio
das contradições
em seus andamentos
as palavras evocam sentimentos
para quê palavras...
se contigo basta o olhar
o sentir e o não estar

ZEDALV

Sonho que sonhos meus
alguns já de tempos idos
de tão velhinhos adormecidos
me disseram de vez adeus

Num desses sonhos
tão sonhados e tão meus
sonhei qu'agarrava os céus

Que numa nuvem subia então
e no arco-irís eu tocava
finalmente iluminava
este tão meu velho coração

Quão ardentes e estranhas
são as paixões sonhadas
de gelo em mia alma acamadas
na vida por mim banidas

Por isso sonho que sonhos meus
por mim fortemente banidos
sem sombras e descida dos céus
Zedlav