domingo, 10 de dezembro de 2006

Rebuscando minhas memórias
Do tempo em que ouvia histórias
Recordo com terna saudade
Sítios que encantaram mia tenra idade

O primeiro um dos mais fantásticos
Na casa de meus avós, meus recantos
Adorava a casa, e meus altares mágicos
A varanda estilo colonial com arcos

Meu colchão alto recheado de amor
Pois ele tinha de ser batido
Para aquela altura abranger
Eu nele desaparecia e com que prazer

O quarto de costura e leitura
Onde inventava brincadeiras com botões,
De tempos de fadas, de princesas, dragões...
Enquanto a minha Avó m'olhava com ternura

Junto ao muro havia um pessegueiro,
Cujo odor dos frutos era inebriante
As flores desabrochavam no canteiro

Tinhamos o quartito dos brinquedos
Mas eu adorava ir p'ra lavandaria
A lavadeira contava histórias de medos
Eu ficava transida de receio e ela, ria

Um dia a casa seus olhos cerrou
Aquele doce homem, tinha falecido
Aquel'Avô que atulhava os bolsos de rebuçados

Vi que uma nova etapa s'iniciou
Meu olhar já não ficava embevecido
Nos meus altares rebuscados

O meu sítio após este, d'amor
Era a minha Kissecula adorada
Janela em arco e um correr de varanda

Meu olhar perdia-se antes da escadaria subir
Olhava tudo sempre em redor, maravilhada
Aquela porta linda, ou o portão da fazenda

Tudo ali me fazia fantasiar
A princípio sem luz eléctrica
Com o candeeiro...lá fora a hiena a chorar
Em noites de trovoada, terrível faísca

Atrás , mesmo no meio do quintal
Espreguiçando-se nosso ribeirinho
Correndo todo apressadinho...
P'ro rio que o s'perava fazendo-lhe sinal

O que eu corria por vezes no pomar
Outras nas ondas feitas pelo café
Pois nos terreiros ficava a secar
E era aí que se apanhava a bitacaia no pé

Mas nessas minhas memórias
As ondas rubras ou castanhas
Ondas de terreiros de café
Ou na descasca as fofas montanhas

Como tudo servia para brincar
enquanto no ar o odor era gostoso
Como adoro tudo isto recordar
Como tudo era limpído e harmonioso

Zedlav